25.4.08

Anistia Internacional em campanha contra "waterboarding": preview no YouTube


Um dos métodos mais sórdidos de tortura, a simulação de afogamento ou "waterboarding", será denunciada em campanha publicitária da Anistia Internacional, no Reino Unido, a partir do dia 09 de maio, quando um filme começa a veicular nos cinemas. Mas já ganhou exibição prévia no YouTube, atingindo mais de 300 mil visualizações em uma semana.
O que chama a atenção na peça, produzida pela Drugstore, é a subversão da estética para tratar de um tema tão difícil e chocante. As imagens iniciais são de grande beleza plástica, com imagens da água cristalina em movimentos lentos de câmera, embalados por uma trilha suave. Aos poucos, essas imagens que enchem os olhos mudam de tom e a água se transforma no principal elemento numa cena de tortura a que um homem é submetido, de forma angustiante e aflitiva.

Contundente e necessário.




23.4.08

Da soberania do tempo e do cinismo político


A foto de Andre Dusek, da Agência Estado, fala por si. Mas não pude deixar de postar e comentar mais de 20 anos de poder máximo tupiniquim nela reunidos, com ares de civilidade e até uma certa alegria, na posse do novo presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.

É o tal cinismo político, eu diria. Penso o quanto o tempo é soberano e, definitivamente, as diferenças ideológicas, políticas, éticas e morais não fazem parte do nosso show.

Penso no tempo de Sarney, com seus fiscais de plantão nos supermercados e uma inflação desestruturante. Penso em Collor, o caçador de marajás pop e arrogante, descendo a rampa caçado e desmoralizado. Penso em FHC, o intelectual vaidoso da histórica esquerda mais à direita que seus opositores, jogando oito anos de lixo embaixo do tapete. E em Lula, que tudo diz, tudo pode, tudo faz em nome do povo que o carrega, a despeito da sua cegueira aos escândalos.

Penso - e isso é o mais preocupante, que a foto é para mim, no máximo, inquietante. Há um certo incômodo, mas também uma certa complacência a essa demonstração pública de diplomacia.

Sinal dos tempos?

Jorge de Capadócia: a força do imaginário

Quando coloquei a imagem de Jorge de Capadócia no blog, esperei o estranhamento. Qual nada! Jorge é tão popular que já faz parte do imaginário dos internautas. Que me desculpe Santo Isidoro, o padroeiro da web, mas Jorge não é só pop, é ciber também.
São mais de 1,5 milhão de referências no Google a São Jorge, o santo guerreiro e protetor, líder soberano dos templários. Nos sites se encontram as lendas, os manuscritos, as orações, as igrejas, páginas multimídia e muitos, muitos produtos à venda: livros, camisetas, imagens, oratórios, medalhas e o tradicional anel de São Jorge, em ouro 18 quilates e onix.


"Helinger Georg", de August Macke
Reza a lenda que o soldado vindo da Capadócia venceu terríveis batalhas por ocasião das Cruzadas e, montado num cavalo branco salvou da morte a filha do Rei de Selena, prestes a virar comida de dragão. O valente guerreiro desembainhou a espada e, em pouco tempo reduziu o terrível dragão em um manso cordeirinho, que a jovem princesa levou preso numa corrente, até dentro dos muros da cidade.
Mais tarde na Palestina, Líbia, com título de conde e depois tribuno militar, aproveitava as lutas para pregar sua crença em Cristo. Foi então perseguido pelo imperador Diocleciano, a quem servia, e submetido a torturas terríveis, resistindo a tudo: lanças de soldados, pedra sobre seu corpo, navalhadas, fornalha de cal e envenenamento.
Jorge saía ainda mais firme e seus algozes convertidos, como o próprio feiticeiro que lhe deu o veneno e a esposa do imperador. Mas à essa "traição" Diocleciano não suportou. E no dia 23 de abril do ano 303, Jorge pagou com a vida, degolado, sem negar a sua fé.
"Jorge e o dragão", de Paolo Uccello

É essa coragem que faz de Jorge da Capadócia objeto de devoção. É para ele que recorremos quando precisamos de força e guarda, quando temos desafios a vencer e devemos permanecer fortes e corajosos. Jorge protege a minha casa, a minha bolsa, os meus pés, a minha garganta, o meu blog e o que e quem mais eu entregar aos seus cuidados. E não sei bem o porquê. Só sei que um dia me disseram que eu era um de seus cavaleiros - e seus cavaleiros se reconhecem. Eu acreditei e pronto: desde então estou vestida com as roupas e armas de Jorge. Assim se constrói a força do imaginário e "todo imaginário tem valor", capaz de transformar cenários, como diz uma das tantas músicas que o reverenciam. Salve, Jorge!

21.4.08

Jornalismo hiperlocal na web: quem quer participar?

O Globo Online lançou no dia 13/04 o site Bairros.com, a página dos Jornais de Bairros de O Globo, onde cada região - são nove e mais o Centro do Rio -, tem um blog próprio, produzido pelos mesmos repórteres da versão impressa, que apuram as notícias em tempo real e enviam pelo celular.
A promessa é que o produto webjornalístico seja um modelo de interatividade e participação ds leitores, que podem enviar conteúdos através da ferramenta Eu-Repórter, comentar textos e e mandar outros, além de fotos e vídeos.
Ainda é cedo para avaliar a funcionalidade e os resultados mas, em tempos de discussões acadêmicas e mercadológicas sobre: Web 2.0, arquitetura da colaboração, motivação à participação e outros temas afins que envolvem a relação entre meios de comunicação e consumidores de informação na web, vale pontuar aqui algumas observações:
  1. O volume de comentários ainda é insignificante, considerando que os blogs referem-se a regiões bem populosas. A média é de 2 comentários por postagem.
  2. Será que transpor para a web a mesma arquitetura do jornal impresso (regiões geográficas e não bairros) foi um tiro no pé? Embora os editores façam questão de dizer que as pautas são distintas, será que o leitor web não tem uma sensação de déjà vu?
  3. É interessante poder identificar a autoria das notícias. A origem - Eu-repórter ou Opinião do leitor -, está sinalizada. Isso é bacana: pode promover o reconhecimento do público com alguém do seu bairro e fazer a "colaboração" funcionar na prática.
  4. Mas o ruim é que, além de comentar, fica difícil outra forma de interação com o produtor da notícia. O site não dispõe de ferramenta que facilite a localização rápida das postagens por autoria nem contato posterior.
  5. Profundamente irritante é que a "participação" e a "colaboração" sejam restritas a usuários cadastrados do Globo Online. A política da empresa, mesmo com gratuidade, não deixa de ser um entrave, que impede até mesmo a leitura dos comentários - a forma mais simples de interação.
  6. Pior ainda é postar notícias curtas que remetem a links exclusivos para assinantes do jornal, as "matérias na íntegra". Opa, a proposta não era criar conteúdo independente?

Bom, mas o tempo é senhor e dirá se as promessas serão ou não cumpridas, se o projeto é viável tal qual está formatado ou não. Espero na janela.

4.4.08

YouTube Insight: quantos, onde e quando

Medir o total de views dos vídeos do YouTube já é lugar comum. É preciso, para alegria dos usuários comuns e, principalmente, dos "comerciais", saber de que países vem os acessos, quantas vezes por dia e em que horários. É o que faz a ferramenta criada pela equipe do Google em Zurique, o YouTube Insight. Sem dúvida será um teste de popularidade para bandas, filmes e ações de marketing viral de grandes anunciantes, todos ávidos pra focar suas estratégias diretamente no seu público-alvo.



Boa hora pra Sony, que tem o recém-lançado "Invasão de espuma", que você vê aqui, fazendo sucesso na web. A empresa provocou uma "onda branca" para produzir um comercial sobre sua linha de câmeras, enchendo as ruas de Miami de espuma. É claro, tudo conferido de perto por 200 convidados, incluindo blogueiros, que trataram de repercutir o evento na Internet, viralizando o comercial com dezenas de vídeos. Vale dizer que os convidados receberam equipamentos de última geração para o registro...
A criação é da Fallon e o comercial foi dirigido por Simon Ratigan, o mesmo diretor de Super Size Me.

3.4.08

Centenário da imigração japonesa em tempos ciber

Expedição, concurso de miss, mascote, série de TV. Tudo isso faz parte das comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil. Mas é uma ação especial na internet que tem chamado a atenção sobre os nikkeis (descendentes de japoneses nascidos em outros países) e já contabiliza uma audiência perto de 100 mil pessoas. Mina e Lisa é uma novela de 25 capítulos no Youtube, protagonizada por duas adolescentes paulistanas e que consegue, com muita competência e simplicidade, falar das questões comuns a toda família sem deixar de mostrar a singularidade da cultura japonesa no Brasil.
Aí entra o mérito do diretor Helio Ishii, que não se rende ao velho truque da folclorização e passa longe dos estereótipos culturais. Mina e Lisa são garotas comuns com desejos, sonhos e dúvidas vividos por qualquer garota de 16 e 17 anos: na trama, as duas amigas procuram o homem ideal para a primeira relação sexual de uma delas. E vão se aventurando, esbarrando em personagens comuns ao seu universo. Tudo bem normal, mas bacana e divertido.

Foto: Divulgação / G1

1.4.08

Bons acervos digitais gratuitos

Fui conferir as indicações do Estadão de sites de livros, áudios e imagens que podem ser baixados gratuitamente. Apesar da digitalização de suas obras não ser mais novidade, adorei rever com mais cuidado e recomendo dois especialíssimos:
Domínio Público, ótima navegação e ótimo acervo, com livros inteiros de Machado de Assis e boa parte da obra de Shakespeare em português, de onde destaco "A Megera Domada" diretamente para a minha e-biblioteca.
Biblioteca Nacional do Brasil, onde se encontra uma vasta coleção de manuscritos, partituras, livros raros, fotografias, mapas, desenhos, aquarelas...e acabei "pescando" o manuscrito de "Minha flor - uma lágrima", de Machado de Assis, da Coleção Literatura e uma gravura de Oswaldo Goeldi, da galeria de suas obras.






31.3.08

Da base da pirâmide a Web de massa

Para pensar:

O mercado da base da pirâmide cresce em países como China e Índia, que experimentam taxas excepcionais de crescimento econômico. Na América Latina e na Rússia também há aceleração por conta da melhoria nos indicadores de distribuição de renda.

Com o crescimento das economias emergentes, as novas classes médias estão sendo formadas exatamente pelos oriundos da base da pirâmide. Esse é o caso do Brasil.

Resultados de pesquisa recente da Interactive Advertising Bureau dão conta de que o mito de que a Internet é elitizada e acessada apenas pelas classes A e B foi por fio abaixo: 37% dos internautas brasileiros que acessaram a rede durante 2007 pertencem à classe C. E 13% são D e E.

Há quem diga que a Web já se consolidou como o segundo meio de comunicação de massa no Brasil, atrás apenas da televisão.

Por isso, entender os hábitos e atitudes desse novo segmento não é só importante, é urgente. Está ou não se configurando uma nova cultura de consumo na Internet? A resposta é sim. Não só de informação, mas de bens e serviços, com um novo perfil de usuários, tal qual o mercado físico experimenta.

Para saber mais, o tema é pauta da primeira edição de 2008 do newsletter da Data Popular, empresa especializada no mercado popular.


Ilustração: HSM Online


Bompreço investe no varejo eletrônico

No segundo semestre desse ano mais um gigante do varejo vai entrar na briga do comércio eletrônico brasileiro. O grupo Wal-Mart, controlador da rede Bompreço, se prepara para a empreitada, guardando a sete chaves sua estratégia e o valor do investimento.
Mas é bom lembrar que o Wal-Mart tem o maior faturamento em vendas eletrônicas nos Estados Unidos, disponibilizando roupas, artigos de bebê, produtos eletrônicos, jóias, CDs e serviços que incluem entrega de remédios e impressão de fotos digitais. Portanto, não vem pra brincar.

O grupo vem ao encontro de um mercado que não para de crescer: o varejo via internet no Brasil em 2007 expandiu 45%, movimentando R$ 6,4 bilhões. Mais dados na Gazeta Mercantil.
Se pensamos no PC, o principal meio de conexão, os números são ainda mais impressionantes: em 2006 e 2007, as vendas cresceram cerca de 30% ao ano em termos reais. No último ano, foram vendidos 10,7 milhões de unidades, mais PCs que televisores. Isso insere o computador pessoal como bem de consumo de massa, presente nos domicílios da classe C.

Bom, falando em classe C, é pra ela que o Wal-Mart caminha, pelo menos no mercado físico. Em 2008 o grupo pretende investir no Brasil 1,2 bilhão, grande parte voltada para os consumidores de baixa renda, que hoje representam menos de 10% no faturamento. O plano é mudar esse cenário em 10 anos. Será que tem espaço para formação de e-consumidores? Vamos aguardar...

Futebol, blogs e ética

Está no blog Futepoca. A Nike criou um site sobre a "recuperação" do seu patrocinado Ronalducho, que fez uma cirurgia no tendão do joelho esquerdo. Até aí tá tudo certo. Mas resolveu usar uma estratégia de marketing viral junto aos blogueiros, para divulgação do site, através de uma empresa especializada em "estratégias para mídias sociais". Gritaria geral. Pra uns, é claro, que entendem a abordagem como uma tentativa de compra de conteúdo. Outros, entendem como uma ação de "marketing" comum e ficaram bem felizes em estabelecer parceria com a Nike, mesmo que futura. Sim, porque o e-mail de "instruções" encaminhado pela empresa de viralização propõe um Post-Piloto! É isso aí: "se der resultado, a gente volta a conversar".

Em campo, mais uma vez, a discussão ética que permeia o mundo dos blogs, recheada de perguntas: Por seu caráter "amador", blog é espaço jornalístico? Blog feito por não-jornalistas é blog jornalístico? Os blogueiros não-jornalistas estão livres do compromisso ético de preservar o conteúdo? Marketing viral não é uma ação legítima na Internet em outros modelos de interação, por que os blogs ficariam de fora? Os meios convencionais não usam a mesma prerrogativa ao "publicizarem" seus conteúdos com cadernos especiais (produzidos por jornalistas, sim), merchandising e afins? Será que tudo não é uma questão de criação de princípios, de normatização? Confesso que tenho dúvidas sobre muitas dessas questões. Mas também acho que "tudo demais é sobra".