16.12.09

Uso de suportes digitais incrementa cultura na periferia


video platform video management video solutions free video player
Vídeo Player by Kaltura Entrevista: Gabriela Agustini.

Acabo de ler (com atraso) a edição de novembro da revista Época Negócios comprada na livraria por conta da reportagem de capa: A classe média que você precisa conhecer.
O conteúdo descreve uma experiência de imersão dos repórteres Marcos Todeschini e Alexa Salomão durante quatro meses na periferia de São Paulo, convivendo com famílias da Classe C.
O retrato é uma quebra de diversos paradigmas. A nova classe média, cerca de 30 milhões de brasileiros e que, em 2009 será responsável por R$ 620 bilhões em compras, segundo as pesquisas qualitativas  apresentou os seguintes hábitos: prefere o custo-benenfício ao preço baixo; guarda dinheiro para o lazer, priorizando as viagens pelo Brasil; não arrisca a inadimplência; é feliz na comunidade onde vive e está conectada à Internet, usando as lan houses como ponto de encontro e sociabilização.
No Twitter, me deparo com a dica de uma entrevista em vídeo de Heloisa Buarque de Hollanda, que disponibilizo neste post, realizada durante o Seminário Internacional do Fórum da Cultura Digital Brasileira onde a pesquisadora, que trabalha com cultura de periferia e cultura digital vai ao encontro das conclusões da revista e fala do papel da Internet em proporcionar espaço para o discurso da periferia.
Heloísa, diretora do Portal Literal e professora da teoria crítica da cultura da UFRJ, aponta que as duas culturas - digital e da periferia - se cruzam positivamente, estabelecendo um novo tipo de comportamento, associado ao entretenimento e às redes sociais.
 A Internet está fomentando a leitura e ampliando a visibilidade para as comunidades através de blogs, por exemplo, que documentam histórias reais, cotidianas, sustentadas pelos vídeos, fotos e textos postados pelas próprias comunidades.
Do mesmo modo que observado pelos jornalistas da Época, o fenômeno das lan houses é citado por Heloísa. "A lan house é um ponto de convivência muito importante", diz.
As conclusões da reportagem da Época Negócios e a entrevista de Heloísa Buarque de Hollanda convergem para o mesmo ponto que tenho dito por aqui. O consumo no Brasil, decididamente, mudou de mãos.
E a Internet e outros suportes digitais dão impulso a hábitos das classes populares dentro do especto social anteriormente inatingíveis, como o da leitura. E isso é muito bom.

13.12.09

Uso do crédito pela classe C leva Bancos aos bairros populares


Foto: autoria desconhecida, extraída de joaokepler.blog.br


Quando fiz minha pesquisa de campo para o projeto de Mestrado, investigando o consumo do Comércio Eletrônico pela Classe C, uma das questões que mais me despertavam curiosidade era a forma de pagamento.
Embora já tivesse informações sobre o incremento do uso do cartão de crédito junto ao consumidor das classes populares, acreditava que a confiança em um mediador "sem rosto", como é o caso da Internet, provocava outro tipo de prática e que os boletos de pagamento fossem a preferência.
No campo, a realidade é outra. O cartão de crédito é utilizado com cuidado, mas sem medo. Dos oito casos que estudei, apenas um dos usuários do E-Commerce costumava fazer o pagamento por boleto, muito mais pela desconfiança na logística do que no sistema em si, que usava normalmente em suas compras nas lojas físicas.
A matéria publicada hoje pelo G1 vai ao encontro dessa lógica. Para a classe C, crédito é crédito, sem diferenciação para classes A, B, C ou D.
As práticas de consumo cada vez mais aproximam uma classe da outra e o aumento do poder de compra das classes populares sacramentam a mobilidade da pirâmide social, hoje, muito mais de ordem econômica que social - cultura e conhecimento ainda fazem a diferença, embora sejam aspirações prioritárias daqueles que saíram da base da pirâmide.
Os bancos já perceberam o que constatei no campo, mesmo em casos específicos: a Classe C rechaça o rótulo da pobreza e quer ser tratada no mercado do mesmo modo que as classes que têm maior faixa de renda.
Porque vale o que cabe no bolso e, em geral, o índice de inadimplência é baixo quando se trata de crédito. O nome limpo, para estas pessoas é um patrimônio. Os bancos estão indo às comuinidades, se aproximando dos moradores com serviços e, principalmente, com o cartão de crédito, incluindo os Private Labels (os cartões de lojas, também em ascenção e adesão garantida).
Isto me lembra um dos meus entrevistados, que teve uma franquia de um banco de serviços e, sem pesquisar o mercado instalou um ponto em um dos principais shoppings da cidade, além de alguns  outros pontos em bairros populares.
Enquanto nos bairros havia fila nas portas para pagamento das contas, no shopping a loja dava prejuízo, até que veio a falência, pelo alto investimento, que não deu retorno a médio prazo e pelas despesas com o caríssimo condomínio e outras taxas.
Também morador de um bairro popular, ele entendeu então que o movimento de mercado - compras e serviços - se dava sem que, necessariamente, a população precisasse se locomover pra outro ambiente, dando preferência aos empreendedores locais, por conveniência ou confiança na vizinhança.
Sem dúvida, há uma classe com potencial de compra que cresce, tanto pelo aumento do poder aquisitivo dos mais "pobres", sejam pessoas físicas ou pequenos empreendedores, quanto pela estagnação ou declínio daqueles que pertenciam a classes mais altas e, que hoje, formam no Brasil uma classe média substancial, que se comporta mimeticamente quando se trata de consumo.
As empresas e corporações que ignorarem este fenômeno estarão fora da lógica do mercado.


12.12.09

A exclusão digital ainda é um fantasma?

"En la práctica, dos tercios de la humanidad, contando los países pobres, están ya conectados. Esto quiere decir que la brecha digital se está cerrando."
A resposta do catalão Manuel Castells aos leitores que o estrevistaram no site da BBC Mundo, no final do mês passado sacramenta uma revisão analítica da revolução digital, daquele que é considerado pelo The Economist o primeiro e mais importante filósofo do ciberespaço, o principal pensador da Era da Informação e da Sociedade de Rede.
Em A Galáxia da Internet (2001), sua obra mais difundida, Castells chamava a atenção para a exclusão digital, sob o argumento de que as interações virtuais e online poderiam gerar isolamento. E apontava o acesso à Internet como superação das desiguadades nuna sociedade "cujas funções e grupos sociais dominantes organizam-se cada vez mais em torno da Internet".


Manuel Castells, por Isabelle Levy

A trilogia de Castells - A Era da Informação: economia, sociedade e cultura (1999) hoje criticada, ainda é reconhecida como uma obra de leitura essencial.
Em seu discurso atual Castells diz que, mesmo que de maneira condicional, há uma igualdade de condições de acesso na comunicação e na informação. "A exclusão digital ainda existe em termos de acesso, mas é relativa e está desaparecendo rapidamente", afirma.
Po que trago a análise revisitada de Manuel Castells sobre a revolução digital e o futuro da Internet?
Porque nesta semana o anúncio do Ministro Guido Mantega da isenção de tributos para a compra de computadores pela rede de ensino pública foi cercado de polêmica.
O governo brasileiro está retirando a incidência do IPI, PIS, Cofins e Imposto de Importação esperando, com a medida, acelerar o processo de informatização da rede de ensino público no país e ampliar o acesso da população à tecnologia da informação.
Houve gritaria. Daqueles que acham a iniciativa politiqueira, eleitoreira e não-funcional, considerando a falta de infraestrutura das escolas públicas e de outros que se sentiram preteridos porque esperavam prioridade de incentivos para a compra de seus computadores pessoais.


Foto: Google Imagens

Entretanto, o mesmo anúncio propõe a extensão da MP do Bem que, hoje, isenta de tributos computadores de até R$ 4.000,00 e que, portanto, promove um incremento na produção e nas vendas de computadores, atendendo às pessoas físicas.
A avaliação da Abinee (Associação Brasileira de Indústria Elétrica e Eletrônica) estima que em 2009, o Brasil totalize 12 milhões de computadores comercializados e prevê um crescimento de 20% a 25% para 2010 com o programa. Sem ele, o mercado avançaria aproximadamente 5%.
É preciso cuidado quando falamos em inclusão digital no Brasil, mas é inegável as iniciativas positivas para democratização do acesso à rede. Claro, o caminho a ser percorrido é enorme, mas qualquer ação que possa, minimamente, promover a interação da população com as tecnologias de informação deve ser bem-vinda.
Como tudo, elas estão aí para o bem e para o mal. Há o mau uso e os cibercrimes, mas as possibilidade de ampliar os horizontes com mais educação e cultura são infindas. O momento é da crença no melhor caminho e refletir sobre a consideração final de Castells:
"Até agora estávamos uns nas trevas e outros na luz. A partir de agora estamos todos ali nas sombras e aí vamos ver quem ganha".

10.12.09

Dengue: o discurso público e o discurso midiático

A cena que acabo de assistir na novela Viver a Vida (Rede Globo), de Manoel Carlos, me remeteu imediatamente às palavras do professor Eduardo Camilo sobre a sensibilização do público alvo nas campanhas publicitárias de causas públicas.
A personagem principal, Helena (Taís Araújo) comenta que a Dengue está na ordem do dia para "desviar a atenção" da população aos escândalos do governo.
Não estou aqui pra empurrar a sujeira pra baixo do tapete e ignorar a corrupção em moto-contínuo dos poderes públicos no Brasil. Mas é fato, também, que a Dengue é um problema seríssimo - os números caíram em 2009, segundo o Ministério da Saúde, mas continuam assustando.
No primeiro semestre foram quase 400 mil casos (notificados) no país. Na Bahia, mais de 100 mil até agosto, sendo 2 mil do tipo grave da doença.
Os vídeos abaixo, trechos da entrevista gravada por mim com o professor Camilo (Universidade Beira do Interior, Portugal) durante suas conferências na Faculdade de Comunicação da UFBA trazem duas questões fundamentais, quando tratamos da comunicação para sensibilizar e provocar o público à ação: a ineficácia das campanhas pontuais, pautadas apenas por meios de comunicação de massa - sem interpessoalidade - e a necessidade do discurso cognitivo e emocional. 
Em outras palavras, a co-responsabilização da população no caso da Dengue é necessária e a prevenção deve ser sistemática, com uso de múltiplas ferramentas de interação de maneira planejada.
Não se nega a apropriação do problema no discurso político. Mas não se pode desconsiderar a importância do discurso e da ação da comunicação, em publicidade ou em mídia espontânea, para que a população esteja cada dia mais consciente e faça o seu papel no combate à doença.
É disto, me parece, que deveria falar a protagonista da novela de maior audiência da TV brasileira.