13.12.09

Uso do crédito pela classe C leva Bancos aos bairros populares


Foto: autoria desconhecida, extraída de joaokepler.blog.br


Quando fiz minha pesquisa de campo para o projeto de Mestrado, investigando o consumo do Comércio Eletrônico pela Classe C, uma das questões que mais me despertavam curiosidade era a forma de pagamento.
Embora já tivesse informações sobre o incremento do uso do cartão de crédito junto ao consumidor das classes populares, acreditava que a confiança em um mediador "sem rosto", como é o caso da Internet, provocava outro tipo de prática e que os boletos de pagamento fossem a preferência.
No campo, a realidade é outra. O cartão de crédito é utilizado com cuidado, mas sem medo. Dos oito casos que estudei, apenas um dos usuários do E-Commerce costumava fazer o pagamento por boleto, muito mais pela desconfiança na logística do que no sistema em si, que usava normalmente em suas compras nas lojas físicas.
A matéria publicada hoje pelo G1 vai ao encontro dessa lógica. Para a classe C, crédito é crédito, sem diferenciação para classes A, B, C ou D.
As práticas de consumo cada vez mais aproximam uma classe da outra e o aumento do poder de compra das classes populares sacramentam a mobilidade da pirâmide social, hoje, muito mais de ordem econômica que social - cultura e conhecimento ainda fazem a diferença, embora sejam aspirações prioritárias daqueles que saíram da base da pirâmide.
Os bancos já perceberam o que constatei no campo, mesmo em casos específicos: a Classe C rechaça o rótulo da pobreza e quer ser tratada no mercado do mesmo modo que as classes que têm maior faixa de renda.
Porque vale o que cabe no bolso e, em geral, o índice de inadimplência é baixo quando se trata de crédito. O nome limpo, para estas pessoas é um patrimônio. Os bancos estão indo às comuinidades, se aproximando dos moradores com serviços e, principalmente, com o cartão de crédito, incluindo os Private Labels (os cartões de lojas, também em ascenção e adesão garantida).
Isto me lembra um dos meus entrevistados, que teve uma franquia de um banco de serviços e, sem pesquisar o mercado instalou um ponto em um dos principais shoppings da cidade, além de alguns  outros pontos em bairros populares.
Enquanto nos bairros havia fila nas portas para pagamento das contas, no shopping a loja dava prejuízo, até que veio a falência, pelo alto investimento, que não deu retorno a médio prazo e pelas despesas com o caríssimo condomínio e outras taxas.
Também morador de um bairro popular, ele entendeu então que o movimento de mercado - compras e serviços - se dava sem que, necessariamente, a população precisasse se locomover pra outro ambiente, dando preferência aos empreendedores locais, por conveniência ou confiança na vizinhança.
Sem dúvida, há uma classe com potencial de compra que cresce, tanto pelo aumento do poder aquisitivo dos mais "pobres", sejam pessoas físicas ou pequenos empreendedores, quanto pela estagnação ou declínio daqueles que pertenciam a classes mais altas e, que hoje, formam no Brasil uma classe média substancial, que se comporta mimeticamente quando se trata de consumo.
As empresas e corporações que ignorarem este fenômeno estarão fora da lógica do mercado.


2 comentários:

cassio brito disse...

Olá Te,

Tem uma coisa que me preocupa muito sobre este tema; Os bancos no ímpeto de acumular riquezas, dao crédito a uma classe que igual muitas vezes nao poderao pagar os seus compromissos. Nao sei, dai vem grande parte da crise aquí na España. Eles deram o sonho da casa propria, hipotecando a muita gente que nao tinha o contra-cheque de acordo com o valor do imovel, e o resultado foi uma inadiplecia absurda. Sempre vejo bastante suspeito qualquer movimento dos bancos em relaçao as classes mais humildes, acredito que o caminho sería formentar o pagamento a vista, para que cada um dê o passo de acordo com a sua perna... Um beijo, espero continuar acompanhando seu blog!!!

Tê Barretto disse...

Esta questão tb me preocupa, Cassi. Mas, pelo que vejo, os mais populares são muito seguros e calculam direitinho seu orçamento. Só fazem o q podem. Na mesma matéria vc podem ver que, embora usando o crédito (e pagando), a grande maioria ainda consegue guardar dinheiro!
Sim, espero q acompanhe sempre. Bjo.