16.11.09

Numa ilha, mas com Internet sem fio


Ilha Suspensa VIII - Manuel Martins, 2009

Tenho pesquisado na teoria e na prática a questão da naturalização das tecnologias digitais e a incorporação da chamada cibercultura ao modo de vida de qualquer mortal. Defendo que a expressão já deu. A forma como se usa celular, Internet - e deste ambiente, as redes sociais - é, para mim, uma extensão natural da ação cotidiana.
A evolução das coisas é contínua. E a cultura é, sim, mutável. Deste modo, as "novas tecnologias" só são novas até o momento em que o acesso e o uso são restritos. A partir do rompimento destas barreiras passam a fazer parte do dia-a-dia, na medida do interesse de cada um. E, no contexto, tem lugar uma nova forma de se relacionar - ou não - com o outro.
No tema insere-se uma discussão que, só na semana passada vi em três frentes: nas palestras de Wagner Fontoura, estrategista de mídias sociais da Riot, no blog do Ian Castro, Intermídias e no blog do Alex Primo.
As perguntas-chave: As redes sociais estão isolando os homens? A Internet prejudica as relações sociais?
Respondo que não e não. E reitero o comentário que fiz no post do Intermídias.
A Internet é muito mais um ambiente de aproximação do que de isolamento. As redes sociais mantém um intercâmbio de informações entre pessoas que nunca se viram mas que podem, sim, ser íntimas por afinidades. E estas relações podem estreitar-se a ponto de ampliar os círculos de amizade fora da rede.
Ou, ainda, resgatar antigas relações, perdidas pelo mundo e que se reencontram no ciberespaço.
Então vou deixar de papear sobre o tempo com meu vizinho pra trocar informações profissionais no Twitter? Possivelmente, sim. Porque o tempo é curto e nunca tive o hábito de conversar na porta com meu vizinho. E isso vem de muito antes da Internet existir. O que não quer dizer que vou deixar de cumprimentá-lo no elevador ou na garagem para me entreter com o smartphone.
Do mesmo jeito vou saber sobre a saúde da minha tia que mora a 1500 km ou do acidente de carro da minha sobrinha que mora em Massachusetts, em tempo real, porque ambas estão no Orkut e no Msn como eu.
Questões de ordem social associadas ao comportamento individual ou coletivo das pessoas, a exemplo de timidez, introspecção, formação de tribos, compulsão, isolamento na família, na escola e no trabalho sempre estiveram aí e, de certo modo, já se intensificavam quando agregadas a outros fatores da bendita contemporaneidade - odeio o termo.
Pressa, competição, estresse, individualismo, perda de valores éticos e outros já vinham, há tempos contribuindo para fragilizar as relações afetivas e sociais, com ou sem redes na Internet e outros suportes tecnológicos da comunicação humana.
Tudo é, portanto, uma questão de filtro, de escolha. Em maior ou menor grau. A vida está aí com tudo: com vizinhos, família e amigos longe e perto. Há aqueles que querem mudar o cenário - o seu próprio - usando a tecnologia a seu favor. Há aqueles que não querem, ou não podem, usá-la.
E há aqueles que, mesmo com todo tipo de suporte em mãos vão preferir o isolamento em detrimento às relações sociais.

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